Ásia - Oriente Médio
Depois de 2 anos debruçados em cima de mapas, muito planejamento e pesquisa, inicio a viagem dos meus sonhos – Afinal iria percorrer a região mais tensa do mundo: o oriente médio, parte da Ásia, o maior continente da terra, onde o contraste de costumes, geografia, religião e povos e muito grande.
Equipado com suplementos minerais, bandeira do Brasil e do meu Motoclube Moicanos, GPS, Global star, duas mochilas, dois alforjes, barraca, saco de dormir, boas roupas e um colchão inflável coloco os pés, ou melho,r os pneus na estrada.
Foram 64 dias de Ásia, 9 paises visitados, 16,5 mil km rodados em cima de uma moto XT 600, do calor de 52 graus ao frio de menos 3, por todo tipo de cenário, desde o deserto, às vezes no meio do sal, até as montanhas geladas do Himalaia e do leste da Turquia.
Turquia - Dia 21 de abril embarquei minha moto no aeroporto de Guarulhos e dia 24 iniciava viagem pela Ásia começando pela cidade de Istambul, antiga Constantinopla, na Turquia, onde conheci as mais lindas mesquitas (Igreja Muçulmana), o famoso banho Turco e o maior mercado de compras do mundo – O Grand Bazaar, onde comprar sem pechinchar é uma ofensa.
No sul da Turquia visito a Cappadócia, considerada a oitava maravilha do mundo, uma cidade em que as pessoas fazem suas casas dentro das pedras, um costume de mais de 5.000 anos.
De todos os paises visitados esse é o mais bonito, devido às suas montanhas geladas, verdes vales e campos de trigo.
Por onde passo é sempre uma festa, as pessoas me cercam desejando boas vindas e curiosas, me pegando e perguntando a nacionalidade, quando falo que sou do Brasil aí a festa fica melhor ainda, pois somos queridos pelo futebol e por sermos um país da paz.
Síria – Na fronteira um susto, me confundiram com um terrorista e fui dar explicações ao alto comando da polícia local, quase borrei nas calças. Com toda a dificuldade da língua, me liberaram depois de 2 horas. Apesar desse incidente o povo Sírio é muito agradável. Logo depois da fronteira parei em uma vila e foi outra festa, mais de 100 pessoas me cercaram, fiz um lanche e não me deixaram pagar, em Al Hasakah ao norte, um homem vendo o assédio de uma multidão quando parei na rua à procura de hotel, me convidou para dormir em sua casa, mas sua família e vizinhos, fazendo perguntas, só me deixaram dormir depois de 1:00 da manhã. No outro dia me foi servido um chá com tomate, pepino e azeitona.
Se você for a Damasco, capital da Síria, não deixe de beber um cafezinho que vendem por toda rua, forte e sem açúcar; tomei um desses e quase vomitei, pois o cara, muito estranho e imundo, limpou a única xícara com a própria língua, tomei para não ser mal educado.
Em Maalula tive o momento mais emocionante da viagem: Um padre de nome Tufick rezou para mim o Pai Nosso, em Aramaico, a língua que Jesus falou e um velhinho, muito religioso, me beijou na testa dizendo que Alah me guiaria por essas terras alheias e distantes.
Na Síria a grande dificuldade é o deserto, o calor é insuportável, más sempre se vê famílias de Beduínos (Nômades) vagando, sem rumo, à procura de alimento para si e suas ovelhas.
Líbano – O Líbano é muito pequeno, cerca de 230 km de comprimento por 80 de largura. Logo na entrada deparei com um acampamento de mais de 400 mil refugiados palestinos que fogem dos Israelenses. O país parece uma só cidade, não há zona rural. Beirute, sua Capital, foi toda arrasada pela guerra civil de 74 a 91, ainda se pode ver muitos prédios totalmente destruídos ao lado de outros modernos e em reconstrução. Pelas ruas pessoas mutiladas e com rostos desfigurados. Aqui vive o grupo HIZBULLAH, para nós são terroristas, más para os Libaneses são heróis pois os defendem do sempre temível Israel.
Irã – Esse é o pais mais fechado do mundo, não há nada que lembre os EUA. Para se ter uma idéia não se consegue visto no Brasil, tive que ficar 15 dias em Damasco à espera de autorização (Visto) do Consulado Iraniano.
Andar de moto pelo Irã dá prazer, até Teerã foi um pulo, apesar do frio, suas estradas são as melhores que já conheci, a gasolina custa R$0,30 o litro.
O que mais temia na viagem era o Irã, sua gente, más foi o povo mais acolhedor, que mais me falou “Well come” (Bem vindo). Também tinha muita curiosidade de conhecer um lar Iraniano e por sorte fui convidado por um Senhor (Ali) para dormir em sua casa. Alah por todas a paredes, na entrada tive que tirar o sapato por ser sujo, lá dentro sua mulher e filhas escondem e fico a sós com o Sr Ali que me faz 1001 perguntas até altas horas, tomando chá sentado em um tapete que também me serviu de cama, sem travesseiro, quase morro de dor na coluna. O Sr Ali dormiu perto, parece que me vigiando.
Em Teerã fui preso por 5 horas pois não se pode fotografar qualquer lugar, não sabia e fui dar explicações de fotos de mulheres iranianas e monumentos do Exército - ainda bem que não viram uma foto de uma Usina Nuclear, senão poderia ser tratado como espião americano e aí nem o Lula me salvaria dessa.
No Irã bebida alcoólica é proibida e pedir uma cerveja em um restaurante é como pedir maconha em um bar brasileiro, todos te olham e poderá ser preso.
Saindo de Teerã só deserto até o Paquistão, com temperatura de até 52 graus, tomo 7 litros d’agua por dia e não vou ao banheiro, sae pelos poros.
No sul do Irã depois de visitar ruínas de cidades e palácios destruídos por Alexandre, o Grande, de sair correndo de famintos do terremoto da cidade de Bam, finalmente chego à fronteira com o Paquistão.
Paquistão – Imagine dormir olhando pro céu, de frente a uma mesquita, na fronteira do Irã com o Paquistão, em pleno deserto, só soldados, mais ninguém, e a última cidade estava a 200 km atras! Pois é! Nenhum brasileiro, segundo me falaram, nunca cruzou essa fronteira. Parece que to no fim do mundo. Meu maior medo é minha moto estragar, aí a solução é deixá-la ali mesmo e seguir sozinho.
No outro dia uma surpresa: A polícia da fronteira só me deixa cruzar o pais acompanhado, o tempo todo, por um soldado, são 2.200 km de deserto até a fronteira com a Índia.
O Paquistão foi o pais mais feio e inóspito que conheci; só areia, sol, montanha e poeira. As pessoas comem com as mãos, nos restaurantes não há mesas e cadeiras, só tapetes imundos. Na cidade de Peshowar toda a população vive da fabricação de armas que são vendidas para o governo, alem de ali a maconha ser plantada em canteiros pelas ruas, e ninguém faz uso da mesma.
Índia – País de 1,1 bilhão de pessoas, esgoto a céu aberto, milhares de pessoas dormindo pelas calçadas, centenas de especiarias, muita pimenta e a impressão de que não há privilegiados.
Pelas ruas só bicicletas e um tipo de moto combinado com carro (Tuk tuk), os veículos não usam retrovisores externos senão um quebra o do outro.
Aqui a grande personalidade é Mahatma Gandhi que conseguiu a independência da Índia sem a morte de sequer uma pessoa, a não ser a sua um ano depois, em 1948, quando foi assassinado.
As crenças e Deuses são muitos. Eles acreditam em tudo: animais como ratos são adorados na cidade de Bikaner (Há 200 mil deles lá) onde um templo foi erguido há 300 anos em homenagem a eles, a vaca sagrada campeia solta sem dono, rios imundos são venerados e o banho ali também é sinal de pureza, na cidade de Amristisar até árvores são santificadas.
Importante também é o Taj Mahal, uma linda história de amor, em que um Rei Persa ergueu um enorme palácio para abrigar o corpo de sua mulher, uma de suas trezentas, que foi morta durante parto do 14 filho. Hoje os dois ali dormem, para sempre, no mais belo túmulo do mundo.
Depois de 16,7 mil km rodados, minha moto fica presa na Índia pois a polícia me pediu um estranho documento chamado carnet , que nem a embaixada Indiana, no Brasil, tem conhecimento do mesmo. Segui mochilando para o Nepal, Tailândia e China.
Nepal – Quando cheguei ao Nepal o País estava fechado pelos Maioista, exército independente que luta contra o governo. Naquele dia o comércio não abriu, nem sequer hotel e o único meio de transporte era de bicicleta, o negócio foi alugar uma e seguir em frente.
Sem dúvida esse foi o pais mais sinistro que conheci. Em Kathmandu visitei um local sagrado em que cremam corpos de seres humanos a céu aberto, com o uso de lenha, para qualquer um assistir, e podemos sentir, no ar, um cheiro forte de carne assada.
Também conheci os famosos Shadus que são pessoas que passam a vida se alimentando de leite e buscando a perfeição de nirvana, através da prática de Ioga.
China e Tailândia - Minha viagem prolongou até a China, onde tive a felicidade de conhecer o Grande Muralha chinesa, única obra vista da lua a olho nu e, finalmente, minha aventura termina na Tailândia onde degustei baratas, escorpiões, grilos e farofa de mariposas – uma delícia.
Como não consegui o tal Carnet Indiano, minha moto fica para sempre Índia.
Volta ao Mundo - Meu próximo desafio é em abril de 2006, quando vou fazer uma VOLTA AO MUNDO SOBRE DUAS RODAS. Como já fui ao México, é de Cancun que vou começar esse projeto. Passarei pelo Alasca, entrarei na Ásia, via Sibéria – Rússia, depois Europa, finalizando em Lisboa – Portugal.
Serão 40 mil km a serem percorridos em 4 meses.